quarta-feira, 25 de março de 2020

Iku um grande orixá!!!





UM POUCO SOBRE O ORIXA IKU

Sim, Iku é um orixá. Ele quem foi escolhido por Olodumare a conduzir o ciclo da criação, devendo vir todos os dias ao Aiye levar as pessoas que seu tempo na Terra já terminou e devem ser reconduzidas ao Orum. Iku não mata ninguém, ele simplesmente toca essas pessoas com seu kumon (bastão que usa para retirar o emi, sopro da vida dado por Olodumare), com este toque a pessoa se desliga desse plano e acorda no outro.
A função de Ikú faz com que ele não seja amado, e consequentemente não seja cultuado, muito menos compreendido. Afinal, a Ikú foi dada a missão de finalizar a existência dos seres do planeta Terra. Por motivos como medo do desconhecido, apego aos entes queridos ou, simplesmente, falta de uma reflexão mais profunda, o ser humano ainda não consegue entender sua belíssima tarefa. É necessário que as existências e os acontecimentos se findam para que novos estágios de existências e situações aconteçam. Todos sobrevivem à morte (que na verdade não existe, o que existe é o desencarne) e podem tornar-se imortais na memória dos que o amaram, pelos seus feitos positivos em vida e no ipori de seus descendentes. Embora Iku retire a vida, só ele pode abrir caminho para uma nova existência. A reencarnação (atunwá) só advem após a morte, e é fundamental para que sejam alcançados os elementos que um dia poderão tornar aquele Ser Humano um ancestral honrado e importante (um esá): o resgate (gbígbàsílè), o arrependimento (ìrobinúje), o perdão (dákun) e com isso alcançar a salvação (ìgbàlá).
A morte constitui o final de um ciclo, onde devemos sempre ter em mente que a passagem no Aiye é temporária, e tem como propósito geral de crescimento espiritual, resumindo-se na missão pessoal de cada indivíduo. Aquele que tem medo da morte não entende a crença ou que a vida é um processo de aprendizagem. A vida é uma experiência momentânea, que quando chega seu fim é porque a aprendizagem está completa. A pessoa poderá assim regressar a seu verdadeiro local de origem e constituir-se em um espírito protetor para seus seres queridos, que permanecerem no Aiye.

AQUI VÃO DOIS ITANS DE IKU:

Ikú antigamente só levava à morte quem Olodumare ordenava, mas depois de um fato em sua existência, Ikú se tornou cruel. Por um engano, uma injustiça, a mãe de Ikú foi espancada e morta na praça do mercado de Ejìgbòmekùn. "Assassinaram a mãe de Ikú!" começaram a gritar. Ikú ouviu e gritou enfurecido. Fez do elefante a esposa do seu cavalo. Ele fez do búfalo a sua corda. Ele fez do escorpião o seu esporão bem firme pronto pra lutar. Ikú batalhou contra os humanos e matava quantos podia e matava sem piedade, mas uma vez perdeu a luta. Ikú foi julgado, e seus inimigos o obrigaram a comer tudo o que era proibido comer, segundo o conceito do èwò. Os inimigos de Ikú foram a sua casa e chamaram Olójòngbòdú, a mulher de Ikú. Olójòngbòdú foi chamada cedo, pela manhã e os inimigos perguntaram o que seu marido não podia comer, o que ele tinha como èwò. Ela disse que Ikú, seu marido, não podia comer ratos, pois as mãos de Ikú tremeriam sem parar. Ela disse que Ikú, seu marido, não podia comer peixe, pois os pés de Ikú tremeriam sem parar. Ela disse que Ikú, seu marido, não podia comer ovo de pata pois Ikú vomitaria sem parar. Os inimigos de Ikú o obrigaram a comer todos os alimentos proibidos, isso o enfraqueceu e o impediu de matar sem qualquer critério (Aqui vemos como é forte o conceito do ewo, quizila, que parou o próprio Iku, por isso sempre devemos respeitar nossos ewo e de nosso orixá). Após isso, Iku continuou a não gostar dos humanos, por isso os suicidas e assassinos são condenados por Iku a vagarem sem descanso no mundo da escuridão, já que importunaram Iku obrigando-o a antecipar sua tarefa.

Apesar de ser um dos mais belos dos orixás (Sim, ele é um belo orixa, pensam e dizem que ele é feio por causa da tarefa que lhe foi atribuído), Ikú tinha apenas uma única esposa, mas mesmo assim Orunmilá queria arrebatá-la. Orunmilá consultou o oráculo e foi dito para ele fazer um sacrifício, e assim foi feito. Após o feito, Orunmilá conseguiu arrebatar a esposa de Ikú para longe. Ao descobrir, Ikú pegou seu Kumo (bastão em que usa para retirar o sopro de vida), e partiu em direção à casa de Orunmilá. No caminho, encontrou com Exu na frente de uma casa. Depois que trocaram saudações, foi perguntado para onde iria, e respondeu que iria à casa de Orunmilá. Exu perguntou qual era o problema, e Iku respondeu que Orunmilá tinha-lhe roubado a esposa, e por isso tinha de matá-lo. Exu, que era muito amigo de Orunmilá, implorou para que Ikú se sentasse. Após conseguir, deu-lhe de comer e beber. Depois que Ikú comeu até se satisfazer, se levantou, pegou seu bastão e partiu novamente à casa de Orunmilá. Exu perguntou novamente onde ele ia, e tem a mesma resposta de antes. Exu então disse "Como você pode comer a comida de um homem, e querer matá-lo? Você não sabe, mas a comida que a pouco você comeu, pertence à Orunmilá!". De repente, Ikú não soube o que fazer, e disse "Diga a Orunmilá que pode ficar com a mulher". Assim Ikú ficou sozinho, sem filhos e sem esposa, sendo o orixá mais fiel à Olodumare, pois é o único que jamais deixa de cumprir integralmente sua missão, percorrendo todos o aiyê sem cansar para cumprir sua tarefa. Por isso, se recebemos uma pessoa em nossa casa, damos abrigo, alimentação, essa pessoa não poderá nos fazer mal, e se o fizer pagará com a própria vida por este ato. Nem o próprio Ikú matou Orunmilá depois de comer sua comida, quem somos nós para fazer mal a quem nos alimentou.

Iku é um guerreiro, e também um dos Irúnmolè do lado esquerdo. É uma divindade que não se fixa em nenhum lugar. Gira em torno do mundo para realizar sua tarefa.
Ikú passou por grandes tristezas. Ikú é intimamente ligado a Nanã, Obaluaiye, Ogum, Oya, Egungun e às Iyami. Iku se veste de branco, e deve ser respeitado pois todos o encontrarão um dia.

domingo, 22 de março de 2020

Odú Ifá

Ọṣẹ Ọtùrà
                            I  I 
                           II II 
                            I  I 
                            I II 
Esse Ọdú fala da encarnação de Ẹṣù Ọdàrà. 

Observação ocidental: Nada acontece sem a ajuda de Èṣú . 

Quando Òlòdùmàrè estava mandando os Ìrùnmòlè para consertar a Terra, 
escolheu 16 Ìrùnmòlè masculinos e um Ìrùnmòlè feminino que é Osun. 
Mas, antes de seguirem viagem, todos foram se consultar com Ifá para 
saber se teriam sucesso. Ifá predisse vitória, mas foram advertidos a não 
traírem um ao outro.
 Ao chegarem a Terra, começaram logo a trabalhar naquilo para o qual cada um havia sido mandado por Ọlọdùmàrẹ e começaram a deixar Osun de lado e não levá-la a sério. Osun ficou muito 
chateada, aborrecida e nervosa, e foi se consultar com o Bàbàlàwọ, pois 
não queria ter papel secundário no panteão dos Ìrùnmòlè.
 O Bàbàlàwọ mandou que Ela fizesse Ẹbọ que tudo ficaria bem, a ponto de os que as 
desprezaram terem que voltar para pedir desculpas.
 Logo que Osun fez 
Ẹbọ, as coisas dos demais Ìrùnmòlè começaram a dar errado e a saírem ao 
contrário do esperado. Desconfiados, Eles também foram se consultar com 
Ọlọdùmàrẹ para saber o que estava errado. Foi quando Ọlọdùmàrẹ 
perguntou-Lhes, onde estava o Ìrùnmòlè Ojukotun. E eles nem sabiam 
onde estava Osun e resolveram procurá-la para pedir perdão e presenteá-
La, deixando-a bem firme em todos os caminhos do Ọrìșà. 
A saída deste Ọdú indica que o consulente: 
Precisa saber que este é um Ọdú de abertura de caminho; 
Precisa incluir as coisas certas no caminho do Ẹbọ e do Iré; 
 Não pode menosprezar principalmente a mulher, pois ela é o tempero das 
coisas; 
Terá vida de sucesso, mas não pode desprezar ninguém; 
Tem que agradar a Ọṣùn; 
Se for homem, já está menosprezando mulher que é importante. 
Quando mulher, precisa ser paciente e perseverante, evitando vingança e 
fazer Ẹbọ para alcançar a vitória.
Não pode respeitar o marido. 
Precisa ter Ifá. 
Se homem e está com problema para ter filho, o problema está no nele e 
não na mulher. Precisa tomar muito abọ da Ọṣùn. 
As pessoas deste Ọdú são colocadas em perigo de vida pela própria mãe ou 
esposa. 
A pessoa é acusada de roubo. Não deve ter contanto com ladrões para não 
leva a culpa de coisa que não fez. 
Quando traz Ọsọgbọ à pessoa deve viagem para desviar a atenção dos seus 
inimigos. 
E orgulhosa e por este motivo todo mundo está em guerra com ela. 
Aqui nasceu à guerra entre a vida e a morte. 
Aqui se criou a arte de matar em legitima defesa. 
O mundo de divide em dois aspectos: vida e morte. 
A pessoa está sendo combatida sem saber e pode ser vítima de um roubo. 
Não deve construir castelos no ar. 
Alimentar ilusões para não sofrer desilusões sua prosperidade só ocorrerá 
depois que sua mãe fizer santo ou cumprir suas obrigações para com eles. 
Este Ọdú fala de uma bênção da submissão voluntária a autoridade 
superior. Tome cuidado para que seus limites sejam respeitados, para que 
você não amaldiçoe o dia que você possa ter escapado do cativeiro 
humilhante. O melhor medicamento para o que aflige você é uma dose 
Ọṣẹ Ọtùrà Iré: Abundancia que leva a visão mística. (Esse Ọdú fala da 
futilidade da mente, corpo e espírito). 
Ọṣẹ Ọtùrà Ìbì: Cobiça leve para decepção. (Esse Ọdú fala da possibilidade 
de destruição devido decepção). 
Ọṣẹ Ọtùrà 
 
Ose tura ladafun unibantinlo leaja benijo tete no niso inba oiyn afere wewe 
aiyaba dide afere wewe osetura omi unroso atie asa olodumare ebo omo 
ire odara...
..
Não adianta falar mal ou até mesmo desejar o mal do seu próximo..
Quando o oráculo manda ,melhor obedecer. 

Ifá agbe wa ooo. 
Foto: Esú mesa de jogo Gutemberg De karê 


sábado, 21 de março de 2020

Realidade no território Brasileiro á mundo a fora !



A febre está à espreita.
Ikú (a morte) transita em todos os continentes: ceifa brancos, orientais, negros, pobres e ricos.
Ceifa sonhos e amanhãs.
O homem de fé e o ateu.
O que tem um Ori próspero.
O que tem um Ori buruku.
A febre está à espreita
E mostra o caminho a Iku.
Omolu já foi chamado.
Não quer nenhum banquete.
Dispensa o Olubajé.
[Omolu conhece a peste e a solidão].
Omolu se entranha na Floresta
Nela, encontra a água das corredeiras e Oxum.
Nela, encontra Ossãe.
Ossãe abre os olhos de enxergar no escuro
Vê que Iku se disfarça de febre.
Examina as folhas de Peregun.
Examina as flores que brotam no Sol quente.
Manipula as ervas que nascem na beira do rio.
Oyá quer guerrear com Iku.
Grita a Tempo que ele pare um instante apenas.
Tempo para, cabisbaixo.
Iansã faz os bambuzais cantarem.
Todos os Orixás ouvem e cedem suas próprias folhas e favas e sementes a Ossãe.
Tempo está parado para que haja Tempo.
Ossãe se recolhe entre cabaças e folhas.
Omolu e Oyá dançam para entreter Iku.
Oxumarê serpenteia no céu tornando-se ponte entre a Floresta e todas as Nações do Norte e do Oriente.
Ossãe trabalha. Ossãe vencerá Iku.
Omolu quer exterminar a febre.
Omolu vencerá Iku.
Oyá desperta Obatalá.
Obatalá apazigua as almas.
A água esfriará a febre.
Oyá vencerá Iku.
Obatalá vencerá Iku.
Omolu ajoelha e bate 7 vezes com seu cajado na terra.
Levanta e cobre todos os homens com seu azê.
Omolu vencerá Iku.
Ossãe chega com seu preparo de ervas, favas, flores e sementes.
Ossãe descobriu o remédio.
Ossãe já escolheu os homens que receberão o segredo.
Oxumarê leva o segredo através de seu arco de cores até esses homens.
Obatalá apazigua Iku.
Tempo recomeça a girar
Haverá Tempo.
Haverá Tempo.
🌻🌻🌻

Créditos: Sávio de Omulu
📸: Desconhecida

sexta-feira, 6 de março de 2020

ACASSÁ



Chamado de Oggi ou ékọ e também Agidi na Nigéria, de Kafa, makumé no Togo e de Akassa e Lio no Benin, o acaçá brasileiro, assim como nas demais tradições, tem como matéria prima o milho, produto este que foi introduzido na Nigéria segundo pesquisas, pelos Portugueses no século XVI.  
O consumo do ékọ em larga escala na cultura africana em especial a Yorùbá é determinado por seu elemento de origem, o milho! Conhecido na Nigéria por diferentes nomes a depender do vernáculo, em yorùbá como agbado ou igbado assim como yangan, pelos Hausa por masara ou dawarmasara, já os Ibo o chamam de àgbàdo e oka, os Bini o denominam oka. 
O milho tem um papel fundamental na alimentação tradicional dos nigerianos, e é ainda mais importante na alimentação de doentes e de crianças em fase de desmame, não podemos esquecer sua função no tocante as questões religiosas. Dizia Verger: “As varias partes do milho entram na composição de trabalhos pertencentes sobretudo ao campo mágico".
O milho esta associado simbolicamente com riqueza, prosperidade, abundância, sorte, fertilidade, multiplicação e vitoria dentre outros fatores.
A folha da Bananeira tem como nome tradicional Eweógẹdẹ, é razoável pensar que por seu frequente uso no preparo do acaçá no Brasil, passou a ser denominada por alguns de EweEkó, apontada como: “a folha de uma determinada espécie de bananeira do mato”, informa Mãe Beata.
A pergunta a ser feita é: porque Ewe Ekó para a folha da bananeira, e não Ewe acaçá, visto que é por este nome e não Ékọ que esta comida ficou conhecida no Brasil. Um dos fatores que nos levam a crer que o nome da folha da bananeira não deveria estar veiculada ao ékọ, é que: o advento do milho na África é posterior ao da banana; assim o nome original da folha estava relacionado ao fruto em questão, e não ao alimento que posteriormente ela envolveria, já escrevia Verger: “Um caso interessante é o da àgbàdo, nome yorùbá do milho, planta originaria da América e introduzida na África em tempos recente”. Ékọ ao contrario do que apontam alguns, não é o nome yorùbá da folha da bananeira, e sim o nome dado a Jaca ou Graviola denominadas: Ékọ òyìbó ou ọmọdé, além de que, em sua obra, Verger relata todos as variantes dos nomes yorùbá relacionados a bananeira e suas folhas, Ewé ékọ não faz parte desta lista, ao traduzir o nome desta folha em um dos preparados magicos “işẹgun inira” o nome Ewe ọgẹdẹ omini, foi traduzido como: Folha de bananeira. 
Em relação ao uso do acaçá para as divindades, diz Maria Inês Couto de Almeida, Ifatosin ao abordar Obatala (Oxalá) em sua obra: “A comida de Orisa'nlá não deve levar sal nem pimenta. Além de igbin, oferece-se orogbo, côco, egbo, ékọ funfun (acaçá) em número de 16 ou 32, enrolados numa folha de ewe-iran (árvore nigeriana)”*. Juana Elbein afirma: “Retirado seu involucro verde, ele constitue a comida dos orisa funfun” e cita que a folha com esta finalidade dentre os Yorùbá é oriunda de uma planta denominada por ela de ÈPÀPÓ.

Ewe eeran.
Uma das folhas usada para envolver o Ékọ foi denominada Ewe Eerán grifada por Ifatosin como Iran, (Thaumatococcus daniellii). 
Muito embora, diferentemente do que colocou Ifatosin, não se trate de uma árvore, Ifatosin diz: “ékọ funfun (acaçá) em número de 16 ou 32, enrolados numa folha de ewe-iran (árvore nigeriana)...” esta folha que uma vez “enrolada” ao alimento, facilmente será confundida com a folha de bananeira dada a sua textura. Mesmo com seu uso frequente na Nigéria para envolver o ẹkọ, Ewe Erán não passou a ser denominada Ewe ékọ pelos que fazem uso desta. Outra folha muito usada no estado de Oyó, é a Ewe Gédu, oriunda da árvore do mesmo nome, a qual tivemos a oportunidade de tocá-la e sentir sua textura que lembra a língua de um gato. Bobola, filho do respeitado Awişé de Oşogbo Babalawo Elebuibom, o qual nos causou, imenso prazer ao conhece-lo, informou-me o nome de outra folha usada para o mesmo fim que a folha de eerán em Oşogbo, é a Ewe Gbodogi, folha esta, que também era usada para cobrir as casas na antiguidade, fato que pode ser constatado no oriki de Logun Edé:
 
“Òjo pá gbodogi ró woro woro”.  

Wande Abinbola aumenta ainda mais a lista quando relata o uso da folha de mamona, Ewe Lara como invólucro do ékọ. Muito embora o ékọ esteja estreitamente ligado à Oişa'nlá, o mesmo não se da com a bananeira, que por muitos é atribuída Şango, por outros à Iroko (Loko) e Eşu. José Flavio Pessoa de Barros e Eduardo Napoleão na obra EWÉ ÒRÌŞÀ, ressaltam: “Embora o acaçá seja o alimento predileto de Oxalá, a este orixá são atribuídas apenas às folhas de banana-prata, pois a banana-d água (ógẹdẹọmìnì) é um dos seus principais “ẹwọ” (interdito), como também é para Oiá”. Aqui dois pontos conflitantes, o primeiro é que diferentemente do que foi colocado, o principal alimento de Oxalá é o Igbin (caracol), outro é que o nome yorùbá ọgẹdẹọmini, esta relacionado à planta como um todo e não a folha ou uma variedade desta, assim como o termo ógẹdẹ abo, ógẹdẹ loboyọ e ógẹdẹ párántà, registrados por Verger. Já a Banana d'água (denominada ọgẹdẹọmìni por José B. E Eduardo N.) também chamada banana-nanica e tem como nome científico: Musa Cavendishii e foi identificada por Verger como ọgẹdẹ-ntiti oyinbo, talvez o equivoco esteja no nome yorùbá, ỌMINI (ọmi-ni) o que no primeiro momento nos leva a interpretar como ser ou ter – água - muito embora a grafia para água em yorùbá seja – OMI.
Da analise destas informações podemos afirmar que não é a folha da bananeira que torna o ékọ propicio a Oxalá e sim o preparado a base de agbado funfun, pois algumas bananeiras chegam a ser até um dos seus interditos, segundo José Flavio e Eduardo.  

Folha de gédu usada em Ilero, Oyo.
Há quem afirme que, o ato de enrolar a massa - ékọ na folha da bananeira, é o que a transforma (a massa) em acaçá. Não podemos assim crer, que é a folha da bananeira a responsável por esta transformação, uma vez que independente da folha que esta comida esteja envolta ela sempre será denominada ékọ nome yorùbá do acaçá no Brasil. Se formos levar em consideração o fato de que a massa de milho ékọ, só se torna acaçá depois de envolvido na folha de banana; Em sendo assim, Obatala em muitos lugares na Nigéria não se alimenta do acaçá, e sim de ékọ, pois como podemos ver a folha da bananeira não é a mais usada na Nigéria. Juana escreve que: “O àkàsà (escrito àkàşù por Abrahan) é um àpólàékọ, isto é, um pedaço de uma porção de ẹko sólido...Essa porção ou este pedaço é envolvido em folhas de uma planta...Cada um desses pacotinhos de ẹkọ recebe o nome de àkàsà”. Podemos encontrar dentro do dicionário yorùbá, a palavra àpólà – significa: lenho ou pedaço de madeira- numa alusão clara à parte de um todo; ainda com o apoio do dicionário, encontraremos o termo citado por Abrahan-àkaşu, subs:. Um grande tabuleiro, de massa de agidi (milho branco), o que é contraponto à afirmação de Juana, que aponta o akasa como partes da massa ékọ, embora o termo àkaşu relata algo em seu todo, não fragmentado. Se unirmos o termo àpólààkàşù, encontraremos referencia à – “um pedaço (parte) do todo”, assim, um acaçá seria um àpólààkàşù e não um àpólàékọ. 
No pensamento de Juana não é o uso da folha, e sim sua divisão/fragmentação que determinam a diferença entre A e B (àkàsà) e (ékọ), fato que não ocorre em África, onde a massa enrolada em qualquer folha é denominada ékọ, se esta massa não chegar ao ponto sólido e frio será denominado ogigbona.
A palavra que identifica a mesma massa de milho na língua ewe-fon é akassa, próxima na ortografia do termo usado por Juana, akasa, muito embora o termo akassa em Fon é o mesmo usado tanto para a massa envolta em folha quanto a massa por si só. Em um verso do Odu Ogbe-Okanran, encontramos esta divisão da massa em pedaços dentro de um sacrifício prescrito: “Ifá diz: alguém não esta bem; este alguém deve fazer um sacrifício para que se torne capaz de comer, ou um bebê de colo está doente e não consegue comer nada; devemos fazer um sacrificio para que ele possa comer novamente: Um bode, cento e vinte pedaços de mingau de milho (ẹkọ) e três shillings é o sacrifício exigido” Bascom.
Embora a divisão da massa esteja presente no Itan, este fato não muda o nome usado pelo informante do Bascom para identificar a massa de milho. A folha da banana não seria o segredo do ékọ como afirmam alguns, ele poderia ser enrolado em outras folhas, como já pode ser observado no decorrer deste texto. Ominderewa diz: "Na verdade, deveria se utilizar não a folha de bananeira, mais uma folha parecida”, e pontua, o uso da folha da mamona-branca (Ewe-lara funfun) em algumas casas, a mesma afirmação é feita por Beata de Iemanja, que diz: “Vários axés não fazem uso da folha de bananeira para envolver o acaçá” e afirma não considerar errado o fato de não enrolar o acaçá, o importante segundo ela é: “a sua presença como oferenda”. 
O fato é que, ao oferecê-lo como alimento propiciatório à divindade, a folha deve ser retirada e de nada mais serve ao orixá o qual foi ofertado, talvez, e só talvez, seja este fato que esteja levando alguns a abrir mão do uso da folha. “Retirado se seu invólucro verde, ele constitui a comida dos orisa funfun” afirma Juana Elbein. Isto faz crer que, como alimento ritual dedicado a outra divindade, que não seja funfun, por exemplo, Şango, a folha não deva ser removida? Por mais uma vez somos obrigados a não concordar! Ela vai além para determinar que: "Envolvido numa folha verde... é simbolo de um ser e, como tal,...pode representar qualquer animal ou mesmo substituir um ser humano”. Juana aponta a representação do acaçá como sendo a totalidade de um ser humano ou animal, nada reduzido a massa encefálica como informado por Mãe Beata. Neste momento faz-se uma indagação: Dentro deste raciocínio, poderíamos oferecer um acaça em substituição a um animal sacrificial, como por exemplo, a cabra? E no caso de obtermos um sim, (o que não concordo) em qual dos três grupos de “sangue” este “acaça-bra” estaria relacionado, animal ou vegetal... no vermelho, preto ou o branco, relembrando que o invólucro do Ékọ, segundo ela, é preto e seu conteúdo branco (ambos vegetais), não encontramos aqui o “vermelho”. O que a autora não mencionou é o fato de que na tradição das divindades em questão o sacrifício humano foi substituído pelo sacrifício da cabra, não de um acaçá, e este fato esta registrado nos contos sagrados de Ifá.
Não esta sendo aqui questionado o poder mágico da folha ou do fruto da bananeira, quanto menos o acaçá/ékọ, quanto alimento tradicional tanto dos Yorùbá quanto de suas divindades, e sim, a alegação feita por alguns de que, para se ter axé, o ékọ tem que ter sido enrolado na folha da bananeira[...] ou que, só vira acaçá-ékó depois do contato com a folha da bananeira, e por fim que seja a folha da bananeira a única ao qual o acaçá (ékọ) deva e possa ser envolto.

quinta-feira, 5 de março de 2020

A PINTURA SAGRADA



Wáji, èlú, ou aro (vegetal, negro- Philenoptera cyanescens

Tinta azul em forma de pó petrificado de origem vegetal o qual busca a representação do sangue negro, simbolizando a noite e a relação de ancestres ligados à própria escuridão.
As partes frescas são contundidas a uma polpa, fermentada, seca e vendida nesta forma, as folhas somente são secadas ao sol e são usadas em um estado quebradiço.
Representa o anoitecer.
Este pó azul é utilizado em inúmeros rituais do candomblé, principalmente para assentamentos de orixá “Igba Orixá” e na feitura de santo sobre a cabeça do ìyáwó/elegun. Símbolo da idealização, transformação, direcionamento com o objetivo de proteger contra todos os males espirituais, materiais e psíquicos, principalmente da negatividade de Ìyámi.
o waji é um elemento muito importante no culto aos Orixás, uma vez que, junto com outros elementos, ajuda a proteger a cabeça dos nossos Ìyáwós contra as Ajé. Segunda a crença africana essas pinturas impediriam que eleyé (ave ligada as Ìyámi) pousasse no ori dos  iniciadas, pois caso isso ocorresse seria um desastre para vida dessa pessoa.
O waji representa a cor dundun (preta), o sangue azul que vem das folhas. Existem diversas espécies que podem ser utilizadas para a produção de corantes azuis como a Isatis tinctoria ,Indigofera tinctoria e o Lonchucarpus cyanescens.
Segundo alguns relatos, as duas primeiras não seriam utilizadas para a produção do waji tradicional, sendo apenas usadas para a confecção do anil (usado para tingir jeans, por exemplo). O verdadeiro waji seria, portanto, retirado do processo de fermentação das folhas doLonchucarpus sp. que é conhecido pelo nome de índigo africano ou índigo yorubá.
O processo de fabricação desse corante era complexo e exigia grande perícia, sendo cercado de prescrições e proibições rituais. Era tão importante que os tinteiros iorubas cultuavam até uma divindade específica para essa finalidade, Iyá Mapo. O pano tingido de índigo significava riqueza, abundância e fertilidade.

Pinturas Sagradas – Osùn

Osun

Osùn, ossun ou pó de ierosun como é chamado pelo povo do santo e pelos babalawos, são feitos de dois tipos de árvores a Baphia nitida que tem uma cor vermelha e Pterocarpus osunw que tem uma cor amarela.
O pó da Baphia nitida que tem a cor vermelha é utilizado em vários rituais do candomblé, na construção de assentamentos de orixá igba orixá, nas pinturas sagradas da iniciação ketu, principalmente na construção do adosun (um cone que fica no centro da cabeça do iaô) com a função de transmitir o poder espiritual chamado de axé e livra-lo do infortúnio gerado por uma das Iyami-Ajé. Este pó representa o crepúsculo.
O pó da Pterocarpus osun que tem a cor amarela é utilizado nos rituais sagrados de Ifá, Orumilá, Oduduwa, alguns orixá nla e orixá funfun, muito utilizado para formar os gráficos de odu no Opon-Ifá e na preparação do merindilogun.

Pinturas Sagradas – Efún

Efun é um nome jeje-nago dado a vários tipos de pó, utilizados nos rituais afro brasileiro. É muito mais conhecido pelos leigos e o povo da umbanda como pemba, nomeclatura utilizada pela nação angola.É um potente giz branco empregado nas pinturas iniciáticas de todos os Orisa, principalmente os Orisa funfun. É considerado muito sagrado, trás o equilíbrio, tranqüilidade, paz e paciência. Muito empregado no preparo de diversas fórmulas para varias finalidades. Faz parte do ase de sangue branco do reino mineral.Tipos de efunEfun ou pemba mineral é um pó retirado de calcário, que são encontrados na natureza em várias cores, também chamada de tabatinga. É utilizado na feitura de santo que serve para pintar o corpo do neófito, chamada de efum fum (pó branco).Efun ou pemba vegetal é um pó retirado de frutos tipo: obi, orobo, aridan, pichurin, nós-moscada e folhas sagradas. A mistura do efun mineral e o efum vegetal recebe o nome de atin e só deve ser preparada pela iyaefun ou iyalorixa. A farinha de mandioca é chamada naturalmente de efun nos terreiros de candomblé.
Efun ou pemba animal é um pó retirado de ossos e cartilagens dos animais utilizados em sacrifícios aos orixás. Esta extração deve ser feita pelo axogun ou babalorixá, entrando na preparação de assentamento de orixa.
Cerimônia ritual que consiste em pintar a cabeça raspada e o corpo da iniciada , com círculos ou pontos , ou ambos e traços tribais ( nas faces ) , feitos com giz, durante a iniciação. Na primeira saída da camarinha, para Oxalá, a pintura é toda branca. Na segunda é da cor do orixá ” dono da cabeça” Para essa pintura usa-se giz dissolvido em água, com um pouco de goma arábica. Depois da dança a pintura é removida com um banho de ervas sagradas. Efun no iorubá é cal, giz. No culto de Obatalá ( Oxalá) , na África este é representado por bolos redondos de giz – sésé – efun ( xexé efun ) , bem como outros objetos brancos. Efun também é cal. Cal é ” lime ” em inglês , que também é limo. Cremos vir daí a confusão com ” limo” da Costa para representar Oxalá, segundo alguns, quando verdade é cal ou giz ( variedade de cal) material para o “assentamento” desse orixá , pelas tradições africanas.

Agbè lo laró Ki raun aro

Alukò lo lósùn Ki raun osùn

Lékeléke ki lo léfun Ki raun efun

Emi ni yio léke òta mi o

(Agbé tem penas azuis,

Que nunca lhe falte o azul

Alukò possui penas vermelhas,

Que nunca lhe falte o vermelho

Lékeléke tem as penas brancas,

Que nunca lhe falte o branco.

Crédito Cesar Alrxandre

OGUN MEJE


 


Ogun Meje significa literalmente "Sete Ogun".
Alguns também o chamam de Ogun Mejeje que significa "Ogun Sete Vezes".

Como podem ver o número 7 é sagrado para este Ogun.
Vamos entender o motivo:

A cidade de Ire é consagrada como principal local de culto a Ogun. Esta cidade foi constituída de Sete aldeias menores, então a cidade de Ire mesmo sendo única ainda se divide em sete regiões. 
Se conta que em cada entrada da cidade há um assentamento de Ogun, então todos dizem:

"OGUN MEJE N'ILE IRE"
(existem sete Ogun na terra de Ire)

As sete entradas da cidade são protegidas por Ogun Meje, ele é quem defende a região.
Onde está o Mariwo de Ogun Meje o mal não passa.
Onde esta o assentamento de Ogun Meje o mal não se aproxima.
Meje é valente e nunca abandona a vigilância para proteger seu povo.

Por este fato Ogun Meje no Brasil é frequentemente assentado nas portas dos terreiros de Candomblé. 

Ogun Ye! Ogun Mejeje o! 

Autor: Felipe Caprini

Por que tocamos o solo 3 vezes?



Para os Nagôs, o Universo se divide em nove planos, sendo quatro superiores e quatro inferiores. .

A Terra se localiza no plano intermediário, sendo chamado de plano astral terrestre.

 Através desse espaço chegavam à terra os Orixás e os ancestrais vindos dos outros planos. 

Os nagôs entendiam que  os ancestrais e Orixás surgiam de dentro da Terra, assim, após a invocação de um Orixá ou ancestral, eles batiam três vezes no solo. 

O três representa na cultura nagô ação, movimento, expansão. O gesto de tocar três vezes o solo significa o “assim seja” ou, então, o “cumpra-se” aquilo que foi determinado pelos Sagrados Orixás. .

Esse procedimento também é repetido no solo na frente da tronqueira seguido do Paó (será abordado numa próxima), congá e dos atabaques (tambores).

 Pela batida cadenciada do atabaque, através da magia do som, os filhos da Terra pedem ajuda, chamando os guias e falangeiros , os ancestrais e os Orixás para que venham para nos auxiliar. .

No Brasil, os africanos, para consagrar o solo e transformar o terreiro em uma parte da África, enterravam relíquias trazidas e elementos encontrados aqui que ligavam aos Orixás transformando (ritualmente) o solo brasileiro em solo africano ”chão” dos seus orixás e ancestrais.